sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

CENA AVULSA OU DON’T SMOKE IN BED

               O último trago, na ebriedade marítima de um domingo à tarde, restara-lhe na boca como um beijo amargo. E o dia parara por aquele momento: a fumaça enredando em torno de si lentamente, reduzindo até o final, quando os lábios quase roçaram as brasas. Depois estivera em um bar ao lado de amigos e enquanto engolia a onda fria da caneca de bebida, comentou rindo que a outra mão agora silenciava no colo. Ou pairava no ar regendo o táxi que no ato estacava, caminho para casa. Na manhã seguinte, aquilo lhe faltou à mesa, ao lado do café e do pão dormido com geléia. No ponto de ônibus, as mãos encontraram a rota dos bolsos, os olhos semicerraram-se de costume. O trabalho tratou de ocupar-lhe a cabeça, mas ao retornar para casa, sentiu por não ter a quem contar o dia do começo ao fim. Naquela noite, evitou o vinho, as canções nostálgicas dos tempos de faculdade, os telefonemas a amigos ou amantes que se dissipariam em lamentos, que se fundiriam em lágrimas, que o sufocariam com silêncios. Ao invés, deitou-se mais cedo e em seu escurecer, precipitou-se solitário.
               A manhã rompeu da fresta entre as cortinas. Da amendoeira, veio o piar que o despertou. A claridade inflamava-se pelo quarto. Ele se ergueu.
(Tema da Semana: "O último cigarro")

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