terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O Natal de Fernando

*Isso é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos ou pessoas reais, terá sido mera coincidência.*    Ritmo: drum n bass


- Filho da puta!
Acordou sobressaltado e confuso tentava explicar-se de onde viera aquele grito, já que sonhava estar sendo suspenso por lava quente que brotava bem do meio do seu cu.
Pesaram-lhe as pálpebras e retomar o sono lhe foi irresistível. Agora sonhava poder aspirar, engolir e cuspir gente por quem passasse na rua.

- Há há hááááá hahahahaha Filho da puuuuuuuuuutaaaaaaaaa!
Sentou-se na cama tão imediatamente que ainda mantinha os olhos fechados. Engasgou e perdeu o ar. Sentia o coração quase sair pela boca, depois pelas têmporas. Ficou muito tonto.
- Huá! Ta com medinho! É viadinho!
- É viado, todo mundo aqui já sabe disso.
- Olha lá... Cagão. Viado tem que morrer!
Blharg, tinha a boca muito seca. Levantou-se e pôs-se a correr para qualquer lugar onde não fosse possível ser visto. Como lhe haviam descoberto? E onde estavam naquele momento? Entrou no banheiro.


- Viu? Se escondendo...
- Se mijou! Se mijou todo! Huahahahahaha
- Hahahahahahaha

Sentiu suas calças molharem e o incômodo que isso trazia. Saiu correndo de novo.
- Socorro! - disse com a voz fraca do sono e do medo.
- Socoooorro! Gritou, entre dentes cerrados.

- Não é o filho da Marilene?
- Aquela que fazia programa?
- Marilene fazia programa. Marilene fazia programa. Marilene fazia programa.
Todos gritaram: – Marilene fazia programa! Marilene fazia programa!

Tremia dos pés à cabeça. Pareciam-lhe serem dois ou três. Talvez cinco. E como eram capazes de lhe dizerem coisas tão perversas? - Marilene não fazia programa. -Mamãe não fazia programa! -Não fazia programa!

- Mas que diabos ele tá fazendo com esse chinelo na mão?
- Vai ver vai se bater. Deve estar arrependido de ter comido a própria mãe. 

Reconheceu então tratar-se da voz de Olga. Ela de novo. Olga. De novo atrás dele.

- Comeu a própria mãe! -disse um deles.
- Comeu e gostou. - arrematou um segundo.
- Fernando da Costa Gonçalves: Pederasta e incestuoso.

A janela. A janela. A janela.
Correu e guiou-se pela luz do lado de fora.

- Fernando da Costa Gonçalves: Pederasta e incestuoso!
- Filho da puuuuuuuta!
- Incestuoso.
- ...da puuuuuta!
- Marileeeeneeee?
- Incestuoso!
- Pederasta e filho da puta!

Arrebentou a porra do vidro da janela com uma e depois com a outra mão.
Sujou a testa com sangue, tentando secar-lhe o suor.

- Corre não, filho da puta, corre não!

Agarraram-lhe: dois pelos braços, um pelas pernas. Debateu-se o quanto pôde. Aliviou a secura da boca com um pouco do sangue das mãos.
Debateu-se o quanto pôde.

Sentiu que lhe injetavam veneno no braço direito. Um chip de controle no braço esquerdo. Sentiu dor.

Pesaram-lhe as pálpebras e retomar o sono lhe foi irresistível. Teve braços e pernas contidos por faixas de pano.

- Porra Fernando, vê se dorme agora, caralho.

Ainda pôde ouvir a TV da enfermaria: “Já é Natal na Lider Magazine...”

Pensou no Natal.
Depois em Dona Marilene.

Dormiu.

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2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Genial! Com aroma de Bukowski, Fante, Cuenca, Bortolotto. Cinema de edição, dos bons.

23 de dezembro de 2008 às 08:49  
Blogger Rodrigo P disse...

puxa, quem dera isso tudo.
obrigado.
Vamos em frente.

23 de dezembro de 2008 às 22:47  

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