quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O PRIMEIRO DIA

        Amava em excesso, resumira a irmã mais velha, a quem também o café era ralo e servido em xícaras minúsculas. Tomara um, dois goles e sua boca entreaberta estranhou o hálito quente da xícara vazia, precipitando-se tão precocemente sobre o hálito quente de sua boca entreaberta, ao que a outra irrompeu de uma breve pausa, recuando a xícara dos lábios em ventosa. Se quiser mais, posso fazer. Respondeu que tanto fazia e viu a irmã se distanciar em direção à cozinha, depois de ajeitar a camisola entre as pernas e içar as xícaras nos ganchos dos indicadores. Perto da porta, sua mala interrompia a passagem. Coloca no quarto, ouviu sem ouvir, pois por um instante escutou o que pensou alto, dentro da cabeça. Que jamais sentira tanta sede na vida. Pombas, você está me ouvindo? Paciência. Também, que idéia a sua: vir procurá-la depois de despertar no bar fechado, até para o mais fiel bêbado, já sem casa, filhos, vida – já sem o seu amor. Mas é que não tinha mais para onde ir, conformou-se, lembrando-se não sem um arrepio de hotéis baratos na Lapa com vagas para moças. O café veio ainda mais ralo e, desta vez, biscoitinhos. A irmã olhou para a mais jovem, que se debruçara sobre a mesa, e murmurou, ponderada, piedosa: amava demais. E esvaziaram as minúsculas xícaras com dois longos goles.

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